terça-feira, 13 de dezembro de 2005

A Grande Obra

Arnaldo Xavier

Palácio Mínimo
Mini Morte

1

Vazada linha ave imperceptível avessa corroa
Silenciosos passos soprados de dunas roxas
Sombras de velha estrada vento azul desfaz
Pesado fogo gota de barro frio rastro risca

Inteiriça navalha língua recorte sentido caís
Vida como traço indeciso horizonte de fios
E vidros sobrancelhas caídas sobre lâmina
Dágua bêbada flutua mais um olhar perdido

Parede branca carne roda de carro louco
Acesa dor repinta o fruto de morto adorno
Perplexo botão e rosa verbo triste sangra

Espelho quebrado de caminho retorno apaga
Pela veia fria o efêmero sorriso vermelho
Refaz estas duas asas cortadas sobre a pia

* * *

2

Origem etérea semente transplanta
Navalha redança modelando flauta
Adormece pedra sendo pedra canta
Peça louca brasa lança infernauta

Embora luz encubra sinal de perda
Satânica vassoura modula deserto
Do amor mais-que-encantado seca
Língua vermelha de dragão incerto

Óssea esquina vento frio lambeu
O interior da terra mais profunda
Rastro humano ventolouco comeu

Prato de pedaços de fruta escura
O coração em cálice lilás afunda
Asas crescem da que fera murmura

* * *

3

Medida sobreflor o vazio cava
Frio temor ilumina a cláusula
Pálida parede silêncio crava
Regra para se adorar a cápsula

As marcas dos pés nos altares
Moeda bode expiador recolha
Lugar atira seus negros olhares
Ao abismo da mais antiga folha

Girassol de luvas flecha a teoria
Louco de louca d'lição se debruça
Sobre a fonte o olhar se esvazia

Razão dágua ignorada tempestade
Virtu’alma viúva n’contramão soluça
Quando a verdade teme a verdade

* * *

4

Solene morte rasga a mortalha justa
Pedra arranca pedra do coração
Cega estrada paisagem ilustra
Pincel tela tinta pintor sem mão

Dança serpente em busca do sol
Crença de barro vende sorriso
O após vestido de gala cor de pó
Sente o antes do perdido paraíso

Rebanho de facas desarmar espinho
Desalmar espírito dança para cura
Anjaulada ternura lua florida de tumor

O desencontro de cada caminho
O disfarce na face da noite mais escura
Soturnos móveis & utensílios de amor

* * *

5

Origem etérea semente transplanta
Navalha redança modelando flauta
Adormece pedra sendo pedra canta
Peça louca brasa lança infernauta

Embora luz encubra sinal de perda
Satânica vassoura modula deserto
Do amor mais-que-encantado seca
Língua vermelha de dragão incerto

Óssea esquina vento frio lambeu
O interior da terra mais profunda
Rastro humano ventolouco comeu

Prato de pedaços de fruta escura
O coração em cálice lilás afunda
Asas crescem da que fera murmura

* * *

6

Medida sobreflor o vazio cava
Frio temor ilumina a cláusula
Pálida parede silêncio crava
Regra para se adorar a cápsula

As marcas dos pés nos altares
Moeda bode expiador recolha
Lugar atira seus negros olhares
Ao abismo da mais antiga folha

Girassol de luvas flecha a teoria
Louco de louca d'lição se debruça
Sobre a fonte o olhar se esvazia

Razão dágua ignorada tempestade
Virtu’alma viúva n’contramão soluça
Quando a verdade teme a verdade

* * *

7

Vazada linha ave imperceptível avessa corroa
Silenciosos passos soprados de dunas roxas
Sombras de velha estrada vento azul desfaz
Pesado fogo gota de barro frio rastro risca

Inteiriça navalha língua recorte sentido caís
Vida como traço indeciso horizonte de fios
E vidros sobrancelhas caídas sobre lâmina
Dágua bêbada flutua mais um olhar perdido

Parede branca carne roda de carro louco
Acesa dor repinta o fruto de morto adorno
Perplexo botão e rosa verbo triste sangra

Espelho quebrado de caminho retorno apaga
Pela veia fria o efêmero sorriso vermelho
Refaz estas duas asas cortadas sobre a pia

* * *

8

Destino irreversível definição pavio
Larvazul oculta aberta sinuosa teia
Templo rosa reta mensura o vazio
Coração despe pétala d'velha lua cheia

Recorta mistério olhar d'armadilha
Razão dágua repintando triste porto
A cada flor a cada espinho da partilha
A cada lágrima deste arquivo morto

Tábua de abismo cravado no preço
Ilusão d'carne alma louca negocia
Como se banana fosse melro adereço

Santo cofre altar aos pés da roseira
Camelô com todos sonhos na bacia
Sobrecriado mudo sombra sopra a poeira

* * *

9

Destino irreversível definição pavio
Larvazul oculta aberta sinuosa teia
Templo rosa reta mensura o vazio
Coração despe pétala d'velha lua cheia

Recorta mistério olhar d'armadilha
Razão dágua repintando triste porto
A cada flor a cada espinho da partilha
A cada lágrima deste arquivo morto

Tábua de abismo cravado no preço
Ilusão d'carne alma louca negocia
Como se banana fosse melro adereço

Santo cofre altar aos pés da roseira
Camelô com todos sonhos na bacia
Sobrecriado mudo sombra sopra a poeira

Estás Deus
escondida fantasia palhaço celestial
vendendo hot good
carruagem gelada
petalar abre-se cinza rosa
chuvácida de caramelo hotdog

* * *

Estás Deus
Sobre pinico solar
Lendo o Times fazendo careta

Estás Deus
Ocultando revólver no interior florido buquê
De chamas

Estás Deus
Debaixo das traves da noite
Esperando os chutes lunáuticos das estrelas
Da marca do penalty

Estás Deus
Vestido Estação Rodoviária
Sem mãos sem cabeça sem lágrimas sem risos
Dando adeus graças a Deus

Estás Deus
Virando copo de tempestades
Sobremesa toalha

Estás Deus
Cantando Yesterday e Casa no Campo

Estás Deus
Pondo gasolina na apocaliptica Carruagem

Estás Deus
Ajoelhado sobre grãos atômicos
Vítima do próprio castigo

Estás Deus
Fumando maconha oculto nas nuvens
Tomando banho
Vendo estrelas

Estás Deus
Baliza nua virgem arcoíris cetro a frente de pelotões de raios e trovões debaixo despecífico guardachuva do sol
Abraçado ao bem e ao mal

Estás Deus
Sempre bêbada luz sobre si própria luz
Rosa orbita lábio vinho
poço sonolento monge líquido medita
Rainha veste flor-de-me-iludo
À sombra de uma coroa de espinhos
A balançar a cabeça de norte para leste
Arrependido de tudo

Estás Deus
Requebrando as nádegas diante a vitrine de calcinhas e souteins

Estás Deus
Masturbando-se à lua

Estás Deus
Cospindo no mar

Estás Deus
Fulminante

* * *

A dor é imperceptível serpente antecipa o sono
A palpébras prateadas caem sobre os olhos

Sombra de carne desfolhada oculta os ossos

Anuncia penhascos de flores áridas

Há silêncios fabricados por portas fechadas

Dormem caminhos
Não há móveis e utensílios
Não há rastros de animais indica o desconhecido
Cortina luminosa molda-se corda
Não há sinais de pássaros

Atravessia interior das pedras

Perdido dentro de si a dúvida o circunda costurando explicações ao pássaro sangrando morre a voar

O sorriso de verme que o quarto como um dadolouco condena parede por parede

O sentido de espera quando nunca houvera partida e o caminho nascemorre no olhar

Engenharia da escuridão

* * *


CATA LOGO
CATÁLOGO
PENSOLOGO
DIALOGO

DIÁLOGO
CATALOGO
SEMLOGO
DIA LOUCO

ATÉ LOGO

* * *


Tulipânico
Tulipântano
Tulipanorama
Tulipanteista
Tulipanto

* * *

Minha ferida é mais dourada
Do que a sua lâmina à flor da pele
sem brilho nenhum Meu tumor é mais
divino Do que a sua falta de luz espinhosa
sobreface sem cura pulsa

Minha dor é mais profundíssima
Do que o seu mortocontínuo
relâmpago a rasgar coração Meu corte é mais frieza detalhada Do que a sua chama mínima
escorre sobre rasa solidão

* * *


Ermo
Em Si
Mesmo

* * *



Diantespelho cagava homens

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