Rios sedentos, de Roniwalter Jatobá
Arlindo Gonçalves*
“Rios sedentos”, de Roniwalter Jatobá (Nova Alexandria, 2006), fala de uma jornada de um pai e seu filho a uma cidade que está prestes a passar por uma trágica mudança: desaparecerá engolida pelas águas de uma barragem.
Os fatores motivadores da inundação, que denotam progresso aparente, na escrita sensível de Jatobá tomam relevo de crítica social — felizmente, desprovida de viés panfletário —, de nostalgia e de transformação.
Muito mais do que retratar a dramaticidade de um momento particular da cidade baiana que é palco da trama, o texto nos mostra uma visão particular de uma viagem ao interior do ser de cada personagem.
Fernando Costa, 11 anos, é o narrador. Em companhia de seu pai, viajam para a Bahia para verem os últimos dias da cidade, prestes que esta de ser inundada.
O pai, Eduardo, 42 anos, sintetiza o migrante nordestino. Vindo para São Paulo, trabalhou arduamente, constituiu família e, agora, retorna às suas origens como que pressentindo a perda delas.
A cidade em questão é Bananeiras, no sertão da Bahia — palco de outras narrativas de Roniwalter. Seu desaparecimento, por conta da barragem que está para ser construída, é, simbolicamente, exemplo da perda de referência histórica de Eduardo. Some a cidade, some o passado; dissolve-se a memória. E esse drama pessoal não deixa de ser uma metáfora da situação de vários outros migrantes.
A notícia da inundação chega aos protagonistas dessa delicada história, sensibiliza-os e os faz viajar para Bananeiras em uma jornada de resgate da memória. E o leitor que os acompanhar terá a chance de fazer uma viagem afetiva e de reflexão por um Brasil profundo — que teima em tratar parte de sua sociedade como estrangeiros em sua própria terra.
Roniwalter Jatobá de longa data vem trabalhando a problematicidade dos brasileiros que, como ele, migraram pelo país. A questão do trabalhador é outro assunto recorrente na obra do autor. Neste “Rios sedentos”, esses mesmos temas afloram novamente; dessa vez, falando com sutileza do direito que cada um de nós tem de ser protagonista da nossa própria história e da importância de se preservar o passado.
* Arlindo Gonçalves é escritor
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